segunda-feira, 19 de março de 2012

UM TEXTO PARA REFLEXÃO

CONVIDO MEUS AMIGOS TERAPEUTAS E FITOTERAPEUTAS PARA FAZEREM UMA REFLEXÃO SOBRE ESTE TEXTO QUE ACHEI FANTÁSTICO.

A Senhora das Ervas
Seus cabelos longos e pretos caíam pelos ombros como trepadeiras em grandes árvores. Usava um tom de voz docinho capaz de amaciar os mais agudos gemidos. Morava num casebre entre a aldeia e a floresta. Chamava-se Senhora das Ervas. Os habitantes da aldeia recorriam a ela sempre que precisavam de cuidados. Ela conhecia os mistérios curativos das ervas. Curava males físicos e também os males da alma. Benzia, rezava, buscava a cura indicada, ensinava como preparar e quando tomar. Seu rosto tornava-se iluminado de tanta felicidade em poder cuidar de tantas pessoas. E essa felicidade sempre foi compartilhada.
Levantava-se cedinho, colocava seu avental azul, pegava sua tesoura, seu cesto e embrenhava-se mata adentro na cata de mais ervas. As moradoras da mata já conheciam a Senhora das Ervas e por ela sentiam uma profunda gratidão. Afinal, era através dela que o reino vegetal tinha a grande possibilidade de cuidar dos moradores daquela aldeia.
Numa dessas reuniões noturnas, o clã das árvores mais velhas e sábias da floresta resolveu presentar a Senhora das Ervas. Seu trabalho agradava de coração. Ficou decidido que a partir de então ela teria a proteção total do reino vegetal. Ela não mais sentia dor, não mais teria porque chorar, não sofreria males físicos, nem males da alma. Feito isso, a Senhora das Ervas, não mais sofreu por nada.
Passaram-se três anos. A Senhora das Ervas continuava ajudando os moradores da aldeia, mas faltava um certo carinho. Via-se em seus olhos uma irritação, uma impaciência, não mais o brilho de antes. Ela se sentia cansada com tanta choradeira, com tanta dor e se perguntava porque tanto sofrimento. As pessoas haviam se tornado tão frágeis! Mas continuava seu trabalho. Agora, achava-o massacrante.
Numa dessas iluminadas manhãs de outono, a Senhora das Ervas pegou suas ferramentas e partiu mata adentro atrás de suas ervas. Ao atravessar um córrego cristalino escorregou e bateu a coxa diretamente numa folha de coqueiro cheia de espinhos. Sua coxa começou a sangrar. A Senhora das Ervas puxou de seu balaio guaçatonga, confrey, calêndula, e foram tantas ervas que eu já esqueci o nome de muitas delas. Ela ficou calada, surpresa. Afinal, não era imune à dor? E esse choro? O sangue estancou. O choro não.
A Senhora das Ervas sentiu muita dor, aproximou-se do Jequitibá e humildemente perguntou:
- Seu Jequitibá, por que?
- Nós, do reino vegetal sabíamos da alegria com que a Senhora curava as pessoas. É através do seu amor e cuidado que colocávamos as ervas à serviço dos seres humanos, seres tão belos quanto distantes dessa beleza. Mas vimos que ao presenteá-la, retiramos da Senhora seu dom maior: SUA HUMANIDADE. Resolvemos devolvê-la. A partir de hoje, retiramos toda proteção. Esse ferimento devolverá à Senhora a compreensão da dor, do choro, do sofrimento do outro. Ao cuidar dessa ferida, saberá cuidar a ferida daquela que lhe pede ajuda, porque a Senhora viveu a dor, chorou, sofreu. Assim seu coração se tornará de novo macio. De novo sentirá carinho em poder curar aquele que a procura. Esse é o nosso melhor presente.
Contam que a Senhora das Ervas tornou-se a mais famosa daquela aldeia. E as casamenteiras dizem que seu coração abriu tanto que coube príncipe, filhos e todas as pessoas que lhe procuravam. 
(Jussara Leão Araújo)

 A mulher que desperta para sua Deusa interior, caminha serenamente entre a dor e as verdades da alma, consciente da meta estabelecida e da plenitude a ser alcançada.

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